Como
descrever Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas? Talvez seja o filme do
Tim Burton que é menos “Tim Burton”, podemos começar assim. Peixe Grande é um
belíssimo filme de drama, mas o dedo do diretor está justamente naquele humor
delicioso e nos maravilhosos elementos de fantasia — e a fantasia é parte
integrante deste longa e do próprio protagonista, interpretado por Ewan
McGregor e Albert Finney (R.I.P.).
Peixe Grande é um dos meus filmes favoritos de toda a vida e reassistindo ele hoje, fiquei com muita vontade de papear sobre ele aqui no Cantinho. Não será uma resenha aprofundada nem nada, eu não tenho o costume de resenhar filmes aqui, mas não queria deixar passar em branco porque é realmente uma obra maravilhosa.
Peixe
Grande segue a história de Edward Bloom, que como ele mesmo diz, “é muito
sociável”. De fato, nosso protagonista exala simpatia e determinação, não à
toa é um contador de histórias nato. Um belo dia, Edward resolve
sair de seu vilarejo porque ele era pequeno demais em relação aos seus sonhos e
assim ele começa a jornada que o leva até a cidade onde mora atualmente. Ele
passa por Spectre, um vilarejo escondido e quase como mágico, ele trabalha no circo
(e, claro, nesta altura ele já havia conhecido seu amigo “Karl”) e se apaixona
perdidamente por sua esposa (sim, ela já era esposa dele desde aquela
primeira olhada, ela só não sabia) :p
Após
muita luta, Ed conquista sua esposa Sandra, mas logo em seguida é convocado a
servir o exército, onde fica por um ano. Quando retorna para o Alabama, eles
finalmente se casam e têm um filho, o Will (que é muito importante para a
história).
O
drama de Peixe Grande está muito nessa relação “pai e filho” entre Ed e Will.
Na altura do filme, Edward (o filme mescla entre o passado que conta a história
de Ed e o momento atual) está severamente doente de um câncer e ele e Will não
se falam há 3 anos. Há muitas questões não resolvidas entre os dois e elas
começam a ser remexidas a partir do momento em que Will retorna para casa, já
que seu pai está nos últimos dias.
Como dito, Edward era um contador de histórias
e a parte de fantasia do filme está justamente nesses momentos, que são
lindíssimos e incríveis. Mas para Will, o filho, é como se ele nunca tivesse realmente
conhecido seu pai, porque tudo o que ele ouvia do pai, era com uma pitadinha de
fantasia, ele sentia que conhecia o Ed contador de histórias e, não o Edward
Bloom real. Aqui entram outras questões também, como por exemplo, seu pai ficar
fora de casa por muitos dias ou semanas, já que trabalhava como vendedor.
Assim, Will cresceu sentindo muito essa ausência e isso causou um
distanciamento entre eles.
Não
irei estender muito, mas é fácil de entender os sentimentos de Will e é fácil
de entender o porquê de o Ed ser como era (e o Will finalmente entendeu no
final). Você percebe que todo mundo à volta também compreendia o Ed, porque a
vida, a vida é tão dura, então que mal faz deixar a realidade um pouco mais
bela?
A
cena do hospital, quando o médico da família conta ao Will sobre o dia em que
ele [Will] nasceu, ele diz algo como “só isso?” e o médico responde algo como “chato,
né? Eu também iria querer uma versão em que retiro a aliança da garganta de um
peixe”, e putz, é exatamente isso. Nossa vida já é tão estressante, às vezes
monótona, e há tanta notícia ruim no mundo, por que não tentar melhorar as
coisas à nossa maneira? Fugir da realidade um pouco, ser mais leve, brincar,
rir, acho que precisamos nos agarrar a algo para suportar os pesares da vida e
do mundo.
Acho
muito interessante que, na cena do velório, todos estão rindo e conversando. Isso
mostra como o Ed cativou e tocou as pessoas, seja com suas ações, com seu
coração gigante ou/e com suas histórias maravilhosas, típico de um PEIXE
GRANDE, que é o que ele sempre foi. Um peixe tão grande que não cabia nesse
mundo.
E
finalmente no final o Will reconhece isso e compreende que, na verdade, ele
sempre conheceu seu pai, porque sua forma de agir e ver o mundo era sua mais
pura essência.
Peixe
Grande e Suas Histórias Maravilhosas é oficialmente meu filme favorito do Tim Burton
(que adoro) e eu amo tudo nesse filme. Amo o elenco, amo a fotografia, amo
absolutamente todas as cenas (como os inúmeros narcisos que o Ed pega para a
Sandra, ou quando o Ed e a Sandra estão na banheira, ou mesmo o Will contando a
história da morte de seu pai)...
e
amo o que esse filme me faz sentir e refletir.
Para
finalizar, gostaria de fazer um adendo sobre a prática de Contação de
Histórias. Contar histórias é uma prática muito antiga e muito importante. Além
de manter a memória cultural, ela estimula o imaginativo e expande o
conhecimento de mundo, especialmente em crianças. Conte histórias. Leve seus
filhos à bibliotecas que tenham esse tipo de programação :-)
Eu
fui uma criança que escutou muitos “causos”, alguns bem assustadores,
rs. Assim como o Ed, o meu avô também foi um Peixe Grande e, além da saudade,
ele deixou um legado de histórias que podemos passar adiante, preservando ainda
mais a sua memória.
(...)
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