(contém spoiler)
The Handmaid's Tale é aquele tipo de série que te deixa perplexo - ou deveria deixar. O universo da série é tão primitivo - a sociedade - que por um momento, pensamos que a série se passa em uma época de décadas atrás, mas logo percebemos que trata-se do futuro, de um governo totalmente doentio e deturpado, onde política e religião se unem a ponto de coisas inimagináveis, acontecerem.
O Conto da Aia é uma série de televisão estadunidense criada por Bruce Miller, baseado no romance homônimo de 1985 da escritora canadense Margaret Atwood, sobre a distopia de Gileade, encomendada pelo serviço de streaming Hulu. Possui duas temporadas finalizadas, ambas com 10 episódios, e uma terceira, em andamento.
A série segue sob o olhar de June, uma mãe e esposa, que, contra sua vontade, é separada de seu marido e filha, e obrigada a se tornar uma Aia. June, que recebe o nome de Offred, segue a série sem saber do paradeiro de sua filha e acreditando, que seu marido está morto.
Gileade é uma sociedade totalmente deturpada. As mulheres férteis, são obrigadas a servirem à famílias da elite, como uma "barriga de aluguel". A série se passa em uma época em que as pessoas já não conseguem ter filhos, por isso as Aias, já que as mesmas são vistas como bençãos, mulheres que nasceram com o dom divino de dar a vida, procriar. Essas mulheres, ao chegarem em uma nova casa, participam uma vez por mês, de uma cerimônia para fecundação, em que participam ela, o comandante e a esposa. A cerimônia acontece com a Aia sob o colo da senhora da casa, enquanto o marido pratica o ato em si.
Em The Handmaid's Tale, temos uma sociedade dividida. As mulheres férteis, se tornam Aias. Temos também as Martas, que são como domésticas. Temos os comandantes, homens da elite. Temos as esposas, que, basicamente, vivem para a casa. Temos os olhos, homens infiltrados. Temos os rebeldes. Temos as tias, que "cuidam" das Aias. Etc. Lá, sabemos quem é quem, especialmente por suas vestimentas. As Aias, são vistas com um traje vermelho e com uma espécie de chapéu branco, que cobre o olhar. As esposas dos comandantes, são vistas de verde, verde água. As tias, de cinza.
Em Gilead, ideias surreais são alimentadas, principalmente, com ideais teológicos, sendo isso muito bem demonstrado no decorrer da série, onde frases bíblicas são usadas constantemente. Seja na cerimônia, ou no dia-a-dia.
Particularmente, vejo a sociedade de Gileade como a hipocrisia personificada. As mulheres são estupradas por seus comandantes, e isto é visto como necessário, como algo divino, como benção, já que é para fins de procriação (mas nos primeiros episódios da série, um homem foi morto e espancado por estuprar uma Aia). Deixo bem claro que não estou defendendo estuprador... o que quero dizer é que, a hipocrisia é tanta, que, a mesma mão que defende/encobre o estupro, é aquela que o condena. A verdade é que O Conto de Aia, tem, em suas cerimônias, um estupro gourmet. Para Gilead, se é um cara da elite estuprando uma mulher, tudo bem, mas se é um cara qualquer, sem status, ele é um depravado que vai contra as leis divinas. Para mim, tanto o comandante, quanto o estuprador sem status, não passam de filhas de puta - assim como as esposas que concordam e participam desse tipo de coisa.
Outro momento em que percebo tamanha hipocrisia, é no tratamento da senhora Waterford, em relação à Offred. Ela sempre foi hostil com ela, mas quando, pensou que a mesma estivesse grávida, até um café diferenciado ela pediu que a Marta fizesse para a Aia. Em todo esse período, passou a tratá-la com todo cuidado e carinho, coisa que se desfez quando ficou sabendo pela própria Offred, que havia sido um engano, que a mesma não estava grávida. Na mesma hora, Serena ficou enfurecida e jogou Offred no chão do quarto, deixando-a presa por dias.
A verdade é que, em Gileade, as coisas acontecem da forma que convém.
A sociedade, é, além de doentia e deturpada, totalmente hipócrita.
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